segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

POR QUE A ANEMIA FALCIFORME É MAIS COMUM EM POPULAÇÕES AFRICANAS?

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A seleção natural é um dos mecanismos básicos da evolução. De acordo com a teoria evolutiva, uma característica vantajosa que confira uma maior taxa de sobrevivência e reprodução é selecionada, sendo então repassada hereditariamente e aumentando sua proporção nas populações.

A seleção natural pode parecer, portanto, a seleção apenas das características obviamente boas às espécies. Porém, alguns exemplos nos mostram que a seleção natural e a evolução são muito mais complexas, como é o caso da correlação entre a anemia falciforme e a malária em países africanos.

A anemia falciforme é um distúrbio genético que resulta em uma alteração no formato natural das hemácias – as células sanguíneas responsáveis pelo transporte de oxigênio em nosso organismo. Além da diminuição na quantidade de células sanguíneas – anemia – a alteração na função das hemácias também pode resultar em uma obstrução do fluxo sanguíneo, causando crises agudas de dor em portadores da doença.

Este distúrbio é grave e não tem cura, podendo reduzir drasticamente a expectativa de vida de indivíduos afetados. Seria de se esperar, portanto, que uma doença tão grave e mortal fosse rara em populações humanas, mas este não é o caso.

A incidência da mutação para a anemia falciforme é mais alta, porém, em indivíduos que possuem apenas uma cópia da mutação. Isso porque, assim como outras doenças herdadas geneticamente, a anemia falciforme somente produz sintomas quando em homozigose, isto é, quando duas cópias da mutação são herdadas – uma cópia do pai e uma cópia da mãe. Em sua forma heterozigota – quando o indivíduo possui apenas uma cópia da mutação –, o distúrbio é assintomático, sendo denominado traço falciforme.

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Em algumas regiões da África, até 40% da população pode apresentar uma cópia da mutação. As altas taxas do traço falciforme são encontradas principalmente em regiões de forte incidência de malária – doença causada pela presença de protozoários do gênero Plasmodium na corrente sanguínea. Esta correlação entre a incidência das duas doenças chamou a atenção de diversos pesquisadores, que por muitos anos trabalharam em pesquisas em busca da compreensão dos mecanismos relacionados entre as duas.

Após muito trabalho, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a correlação geográfica das duas doenças se deve ao fato de que a mutação para a anemia falciforme foi fortemente selecionada, especialmente, em populações africanas. Isso porque a presença do traço genético para a anemia falciforme protegeria, de alguma forma, o indivíduo da infecção por Plasmodium. Pesquisas mais recente conseguiram explicar, inclusive, os mecanismos biológicos relacionados a esta associação.

Sendo assim, apesar da gravidade da anemia falciforme e dos fortes riscos à vida dos portadores do distúrbio, possuir apenas um dos alelos para a doença traz uma vantagem evolutiva a moradores de regiões com forte incidência da malária. Com o aumento na quantidade de portadores heterozigotos do alelo para a anemia falciforme, aumenta também a incidência de portadores homozigotos dos alelos, sendo estes os portadores da anemia falciforme em sua versão mais agressiva.

Fonte: The Lancet.

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