"Alguém viu minha carteira?" "A
que horas tenho que ir ao dentista?" "Qual é o nome daquele filme que
fomos semana passada?" Todos fazemos esse tipo de perguntas de tempos em
tempos, não importa nossa idade, e não ter uma memória perfeita é perfeitamente
normal. Também é normal que nossa memória de longo prazo, bem como nossa
capacidade de lembrar fatos que só ocorrem ocasionalmente, desvaneça-se um
pouco à medida que envelhecemos. No entanto, quando entramos em nossos sessenta
anos, muitos de nós nos preocupamos com o esquecimento ou a dificuldade de
prestar atenção, como sinais de que o pior está por vir. Um dos medos mais
difundidos quando envelhecemos é o da demência devido à doença de Alzheimer.
Tanto a demência (incluindo a doença de
Alzheimer) como o delirium são causas comuns de perda de memória, pensamento e
compreensão (cognição) prejudicados e comportamento debilitado. São desordens
distintas, mas podem ser difíceis de distinguir:
Demência
é um grupo de sintomas que afeta principalmente a memória, a cognição e as
interações sociais, bem como a capacidade de fazer as tarefas diárias. Os
sintomas começam gradualmente sem um começo marcante e são geralmente
permanentes.
Delirium,
por outro lado, normalmente começa de repente, com um ponto de partida
perceptível. Ele afeta principalmente a atenção e termina muitas vezes depois
de alguns dias ou semanas, embora possa durar mais tempo.
Estrutura, função e danos cerebrais na demência
O cérebro é o centro de controle do corpo.
Está cheio de milhões de células cerebrais interconectadas, chamadas neurônios
que recebem, processam e enviam mensagens que controlam e coordenam quase tudo
o que você faz. Seu cérebro é dividido em três partes principais, o tronco
cerebral, cerebelo e cérebro. Estas regiões diferentes são responsáveis por
diferentes funções, tais como movimento, discurso, sentido de percepção,
emoções, frequência cardíaca, cognição e memória.
A informação viaja para o cérebro e do cérebro
para o corpo ao longo de neurônios, sob a forma de impulsos elétricos. Quando
um impulso nervoso atinge a extremidade de um neurônio, é liberado um
neurotransmissor químico, que estimula o impulso nervoso elétrico no neurônio
seguinte, permitindo-lhe "saltar" de um neurônio para o outro. Os
neurônios em diferentes partes do cérebro utilizam diferentes
neurotransmissores para transferir informações. Alguns neurotransmissores
estimulam a atividade cerebral, outros acalmam o cérebro, e alguns fazem os
dois. Quando seu cérebro está funcionando bem, esses neurotransmissores estão
em equilíbrio.
A demência pode ocorrer a qualquer momento, se
os neurônios forem danificados. O dano pode ser em qualquer lugar dentro do
cérebro e em mais de uma área ao mesmo tempo. A maioria das demências são
causadas por doenças neurodegenerativas, mais comumente a doença de Alzheimer,
a demência com corpo de Lewy e a demência frontotemporal. Estas doenças causam
aglomerados de proteínas anormais a se formarem dentro de neurônios,
danificando-os e levando-os a degenerar-se lentamente até sua morte. Não
surpreende que isto interrompa a produção de neurotransmissores e os sinais no
cérebro. Além dessas, a demência vascular é outra causa comum de demência
progressiva. Neste caso, o dano cerebral ocorre quando o suprimento de sangue
para os neurônios é reduzido ou bloqueado, levando-os também a degeneração ou
morte. O bloqueio e os danos aos vasos sanguíneos podem resultar de um derrame,
ou podem ser causados por hipertensão arterial ou outras doenças dos vasos
sanguíneos. Existem também várias outras doenças neurodegenerativas raras e
muitas outras causas menos comuns de demência, como infecções ou deficiências
dietéticas.
O
delirium é uma condição aguda, transitória, de mau funcionamento cerebral,
geralmente reversível. O que exatamente acontece dentro do cérebro de alguém
durante o delirium ainda não é bem compreendido, embora se pense que possa ser
causado por múltiplos desequilíbrios dos neurotransmissores, que alteram sua
atividade cerebral normal.
Sintomas de demência e delirium
Os
sintomas de demência afetam as pessoas de forma diferente dependendo da área ou
áreas do cérebro que são afetadas e podem ser progressivos ou reversíveis,
dependendo da causa do dano. Às vezes os sintomas são muito semelhantes aos do
delirium, tornando o diagnóstico um pouco complicado, além de ser bastante
comum para uma pessoa com demência desenvolver o delirium.
Demência:
os sintomas geralmente começam gradualmente, são bem constantes no dia a dia e
lenta, mas constantemente tornam-se piores no decorrer de aproximadamente uma
década.
Sintomas cognitivos incluem:
- Perda
de memória;
- Dificuldade
de falar e de se comunicar ;
- Dificuldade
nas tarefas complexas;
- Dificuldade
em planejamento e organização;
- Desorientação;
- Perda
da coordenação;
Sintomas psicológicos incluem:
-
Mudanças na personalidade;
-
Inabilidade racional;
- Comportamento não apropriado;
-
Paranoia;
-
Agitação;
-
Alucinações;
-
Medo, ansiedade, raiva e depressão.
Delirium:
os sintomas geralmente aparecem durante algumas horas a poucos dias, podem
aparecer e desaparecer durante o dia e geralmente ocorrem à noite.
Sintomas cognitivos
incluem:
-
Perda de memória;
-
Dificuldade de falar e de se comunicar;
-
Divagações e discursos sem sentido;
-
Dificuldade na leitura e escrita;
-
Desorientação;
-
Atenção comprometida;
-
Tornar-se facilmente distraído;
-
Retraimento;
Sintomas psicológicos
incluem:
-
Incapacidade de concentração;
-
Inabilidade racional;
-
Redução na percepção do ambiente;
-
Agitação;
-
Alucinações;
-
Distúrbios do sono.
O que causa demência
e delirium?
Demência
Quatro
doenças são responsáveis pela maior parte dos casos de demência: a doença de
Alzheimer (cerca de 50-60% dos casos), a demência vascular (cerca de 15-20% dos
casos), a demência com corpos de Lewy e a demência frontotemporal. Cada uma
delas têm características diferentes:
Doença
de Alzheimer os sintomas geralmente começam do meio para o final dos 60 anos do
paciente, embora uma pequena proporção de pessoas tenha início precoce do
Alzheimer, com sintomas a partir de seus 40 ou 50 anos. Esta forma da doença de
Alzheimer tem um forte componente genético e normalmente ocorre em famílias.
Demência
Vascular é
rara se você tiver menos de 65 anos, mas geralmente começa mais de repente do
que a doença de Alzheimer. O diagnóstico pode ser complicado se o paciente
tiver a doença de Alzheimer ou outra demência ao mesmo tempo. Pessoas com risco
para demência vascular muitas vezes têm uma história de tabagismo, disritmias
cardíacas, hipertensão, diabetes e doença arterial coronariana.
Demência
com corpos de Lewy:
corpos de Lewy são aglomerados anormais de proteína que se acumulam nos
neurônios cerebrais causando problemas com a sinalização da célula; são frequentemente
encontrados nos cérebros de pessoas com doença de Alzheimer e Parkinson
(principalmente um distúrbio de movimento). A demência com corpos de Lewy é
semelhante ao Alzheimer, mas pode ser distinguida por sintomas exclusivos como
distúrbios de rápido movimento dos olhos, distúrbios do sono e pelas flutuações
entre confusão e clareza.
Demência
Frontotemporal frequentemente
tem seu início mais cedo do que a doença de Alzheimer, geralmente em seus 50 ou
início dos 60 anos. O dano cerebral ocorre na parte frontal do cérebro em
regiões que controlam a personalidade, o comportamento e a linguagem.
O
motivo exato pelo qual desenvolvemos essas demências ainda permanece um enigma,
embora provavelmente existam componentes genéticos em muitos casos. Outras
condições raras também têm sido associadas à demência, incluindo a doença de
Huntington, doença de Creutzfeldt-Jakob e a doença de Parkinson, bem como a
lesão cerebral traumática.
Além
disso, há uma variedade de outras razões pelas quais se pode ter demência
quando os sintomas muitas vezes são reversíveis. Estes incluem infecções (por
exemplo, meningite, ou sífilis), deficiências nutricionais, reações a
medicamentos, hemorragias cerebrais, abuso de substâncias e envenenamento.
Também é possível que o mau funcionamento de outros órgãos vitais, incluindo o
fígado ou os rins possam prejudicar a função cerebral causando a demência.
Como
num idoso, qualquer condição que termina com uma visita ao hospital aumenta o
risco de delirium, e até 80% das pessoas que estão gravemente doentes deliram
em algum momento durante sua estadia no hospital. Há diversas condições que
podem provocar delirium sendo as mais comuns à desidratação, infecções agudas,
tais como infecção do trato urinário ou pneumonia, ingestão de drogas
prescritas como antidepressivos, soníferos, narcóticos e álcool bem como abuso
de substâncias ou a retirada de drogas prescritas.
Quantas pessoas têm
demência e delirium?
Demência:
no mundo há cerca de 50 milhões de pessoas vivendo com demência, com 8 milhões
de novos casos todos os anos; como a expectativa média de vida está aumentando
constantemente, a demência está aumentando rapidamente em muitos países. Globalmente,
quase 1 em cada 10 pessoas acima de 60 anos tem demência, e a prevalência
aumenta rapidamente com a idade. As mulheres correm o risco ligeiramente maior
que os homens, as chances aumentam com obesidade, diabetes, pressão alta ou
outros fatores de risco cardiovasculares.
Delirium:
o Delirium é muito comum no ambiente hospitalar, especialmente em idosos e
doentes. Na verdade, quase metade dos pacientes mais idosos estão delirando
quando são admitidos, ou desenvolvem delirium enquanto estão hospitalizados.
Como a demência, o delirium aumenta significativamente com a idade, mas em
contraste com a demência, o delirium é um pouco mais comum entre os homens do
que nas mulheres.
Há maneiras de
prevenir demência e delirium?
Demência:
não sabemos ao certo como prevenir demência, mas um estilo de vida saudável e
ativo que inclui manter o corpo e a mente ativos, e que mantém você socialmente
conectado pode ser benéfico. Outras medidas que você pode tomar para reduzir o
risco são: parar de fumar, diminuir a sua pressão sanguínea e manter uma dieta
saudável e equilibrada quanto aos nutrientes e vitaminas, que indiretamente
reduzem seu risco.
Delirium:
A melhor maneira de evitar o delirium é remover seus gatilhos. Num ambiente
hospitalar pode-se incluir sistemas para manter o ambiente tão calmo e
tranquilo quanto possível, proporcionando apoio individualizado os cuidados
médicos necessários, e quando possível, evitar medicamentos conhecidos por
desencadear o delirium.
Quais são os
tratamentos para demência e delirium?
Demência:
a perda de memória e outros sintomas de demência podem ter muitas causas,
assim, após revisar seu histórico médico e os sintomas, seu médico
provavelmente irá pedir outros testes para avaliar suas habilidades de
pensamento e movimento e, possivelmente, sua saúde mental. Além disso, pode ser
necessário um exame cerebral para verificar se você teve um acidente vascular
cerebral ou sangramento no cérebro, ou se você tem um tumor no cérebro, bem
como vários testes de laboratório para verificar se há quaisquer problemas
metabólicos e nutricionais.
A
maioria dos tipos de demência são incuráveis, mas há medicamentos que regulam
as substâncias químicas cerebrais envolvidos nas funções cerebrais, incluindo
memória, julgamento e aprendizagem que podem ser úteis no controle ou redução
dos sintomas. Dois dos tipos mais comumente prescritos de medicamentos são os
inibidores da colinesterase e memantina, que é o primeiro de uma nova classe de
fármacos para o tratamento da doença de Alzheimer. Outros medicamentos também
estão disponíveis para tratar quaisquer sintomas acompanhantes, e há terapeutas
ocupacionais especialistas na ajuda, com estratégias para lidar melhor com os
desafios do dia a dia e melhorar a qualidade de vida.
Delirium:
seu médico provavelmente seguirá um processo similar àquele descrito acima para
a demência para decidir se você está ou não delirando. Se você está, seu
tratamento será dirigido para eliminar a causa ou causas subjacentes e podem
incluir, por exemplo, tratar uma infecção, ou parar ou trocar um medicamento
específico que você está tomando para tratar de outra coisa. Seu médico pode
também recomendar cuidados adicionais de suporte, para garantir que você
mantenha-se hidratado, tratar qualquer dor que você possa ter, mantê-lo
orientado em relação ao seu entorno, e ajudá-lo a se recuperar novamente.
Tudo isso vem nos mostrar o quanto somos frágeis e dependentes das misericórdias de Deus nas nossas vidas. E, ainda, vem nos alertar que ninguém é melhor do que ninguém!
Fonte: Rizzi, L.,
Rosset, I., & Roriz-Cruz, M. Global Epidemiology of Dementia: Alzheimer’s
and Vascular Types. BioMed research international, 2014.; Vasilevskis, E. E.,
Han, J. H., Hughes, C. G., & Ely, E. W. Epidemiology and risk factors for
delirium across hospital settings. Best Practice & Research Clinical
Anaesthesiology, 26(3), pp. 277-287, 2012.; World Health Organization. Dementia
Fact Sheet No. 362, 2015. Disponível em http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs362/en/; Burns, A., Gallagley, A., & Byrne, J. Delirium. Journal of
Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, 75(3), pp. 362-367, 2004.
God bless you!
See you later. Take care!
Matéria muito importante e pertinente aos nossos dias, que possamos ficar sempre atento ao menor desses sintomas.
ResponderExcluirGratidão meu, querido, amigo, diretor, Jairo! É uma honra tê-lo por aqui no nosso blog! Um grande abraço!
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