Causada
por fungos da espécie Batrachochytrium dendrobatidis,
a quitridiomicose – também conhecida
como Bd, em homenagem à espécie causadora da doença – é uma enfermidade que afeta
a pele de anfíbios, dizimando diversas populações e até mesmo levando algumas espécies
à extinção.
Anfíbios
infectados com a doença apresentam alterações em seu balanço hídrico e osmorregulatório,
além de cardiopatias e disrupções do sistema imune, dentre elas uma diminuição
na quantidade de linfócitos, células responsáveis pela identificação e
destruição de infecções. Todos estes sintomas levam os anfíbios a apresentarem,
também, letargia e diminuição da coordenação, além de outras alterações comportamentais.
Tamanha
agressividade despertou o interesse de diversos pesquisadores ao redor do
mundo, que uniram esforços em busca de uma maior compreensão e uma possível
cura para a doença. Após muitos anos de estudo, estes pesquisadores perceberam
que, em algumas espécies de anfíbios – especialmente em anfíbios asiáticos – a
quitridiomicose parecia apresentar-se de uma forma mais amena, com sintomas
mais leves e menos mortais aos organismos infectados.
Novas
pesquisas indicaram que esta versão mais light da doença poderia ser resultante
de uma longa história evolutiva entre o fungo causador da doença e as espécies
de anfíbios infectadas. Nestas populações, a exposição de diversas linhagens à
doença teria resultado na sobrevivência dos anfíbios com um melhor sistema
imunológico contra a doença, resultando em populações mais resistentes.
Porém,
a seleção de uma nova característica adaptativa em uma população pode implicar
em novos gastos energéticos. No caso dos anfíbios, um sistema imunológico mais
resistente torna-se, por outro lado, mais custoso ao organismo, exigindo um
maior gasto energético para ser mantido.
Além
disso, não apenas as populações de anfíbios adaptaram-se à doença ao longo do tempo,
como também os patógenos podem ter se adaptado aos anfíbios infectados: alguns deles
são capazes de manipular quimicamente seus hospedeiros, induzindo-os a
determinado comportamento.
Foi
pensando nisso que os pesquisadores da Universidade Nacional de Seul, na Coreia
do Sul, resolveram analisar os chamados de anfíbios asiáticos (espécie Hyla japonica) infectados com a doença.
Os
pesquisadores gravaram e analisaram dezenas de chamados de indivíduos machos da
espécie, em busca de possíveis alterações no tom ou na duração dos chamados
resultantes da infecção. Além disso, amostras dos anfíbios foram coletadas para
identificação da doença. Dentre os 42 espécimes analisados, 9 apresentaram resultados
positivos para a quitridiomicose.
Os
pesquisadores esperavam encontrar um chamado mais lento e baixo em anfíbios infectados,
uma vez que a doença torna-os mais lerdos. Os resultados, porém, surpreenderam:
em populações resistentes à doença, anfíbios infectados apresentam chamados
mais altos, longos e agudos, o que reflete em uma maior quantidade de fêmeas
atraídas durante o período reprodutivo.
Tudo
indica que, nestas populações, os fungos tenham se adaptado a “controlar” os anfíbios,
alterando o tom e a duração de seus chamados, como se “pegassem uma carona” durante
a reprodução de seus hospedeiros.
Isso
porque quanto maior for a reprodução de anfíbios infectados, maior é a
distribuição da quitridiomicose pela população, uma vez que a doença é
transmitida durante o contato dos machos com as fêmeas, e das fêmeas para seus filhotes.
Ainda
não se sabe exatamente quais mecanismos levam os fungos transmissores da doença
a controlarem o comportamento de seus hospedeiros. Porém, o que o estudo
demonstra é que, mesmo que de uma forma mais branda, a quitridiomicose continua
a afetar as populações consideradas resistentes.
Fonte:
Biology Letters.
God bless you!
See you later. Take care!
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