Afinal,
os vírus são seres vivos ou não? Essa é mais uma daquelas grandes questões da
biologia que permanece sendo alvo de intensos debates e aos poucos a comunidade
científica vai chegando a um consenso.
De
um lado alguns defendem que não e alegam que eles são seres inanimados que necessitam
de uma célula hospedeira para se reproduzirem, além de não possuírem uma
estrutura celular – isso é o que você provavelmente aprendeu na escola. De
outro, há evidências cada vez mais fortes de que os vírus são sim seres vivos.
Vamos conhecê-las?
Um
estudo publicado na Nature em 2008 mostrou que os chamados mimivírus – vírus gigantes
que infectam bactérias – podem ser infectados por outros vírus chamados de Sputinik.
O fato de que alguns vírus podem adquirir doenças causadas por outros vírus, portanto,
é umas das evidências que contraria a ideia de que eles são seres inanimados.
Ainda,
ao contrário da maior parte dos outros vírus, os mimivírus são capazes de produzir
proteínas complexas – mais um ponto que reforça sua classificação como um ser
vivo.
Cientistas
também descobriram que os mimivírus possuem um sistema de defesa muito similar
ao sistema CRISPR, encontrado em bactérias e outros microrganismos – isso mesmo,
o sistema que deu origem à moderna técnica de edição de genoma. Vale lembrar que
os vírus também compartilham um mesmo tipo de código genético com os organismos
que chamamos de seres vivos.
O
compartilhamento de características com os seres, considerados, vivos leva os
cientistas a crerem que os vírus fazem parte da chamada árvore da vida e
dividem com os seres vivos, também, uma história evolutiva. Um estudo de 2015
publicado na Science Advances também encontrou evidências que suportam a
hipótese de que eles são entidades vivas que compartilham uma história
evolutiva com as células que conhecemos hoje.
Por
isso, considerando a definição de seres vivos que sempre aprendemos na escola, poderíamos
dizer que os vírus estão no meio do caminho entre os seres vivos e não vivos, numa
espécie de zona cinzenta. Isto é, apesar deles possuírem várias características
que podem caracterizá-los como seres vivos, eles não possuem todas as
necessárias!
Em
casos como este, cabe aos cientistas reverem estes limites – a definição do que
é um ser vivo, por exemplo – afinal, a biologia não é uma ciência exata e
sempre há exceções. Os vírus parecem ser uma delas. Todas estas evidências
encontradas levam a crer que os vírus são sim seres vivos, porém desprovidos de
células. Atualmente, grande parte da comunidade científica já reconsidera a reclassificação
destes organismos e parece que estamos caminhando rumo à sua inclusão definitiva
no seleto grupo dos seres vivos!
Dois vírus gigantes e
complexos são descobertos no Brasil
Descobertos
no Brasil, dois vírus gigantes e complexos, com um genoma jamais visto
anteriormente, podem revolucionar e fundamentar a discussão de que vírus são seres
vivos, além de causar mudanças na árvore evolutiva e na classificação dos 3 domínios
da vida.
Vivendo
em condições primitivas, semelhantes àquelas que deram origem aos primeiros seres
vivos do Planeta, dois novos vírus – gigantes e geneticamente complexos – foram
descobertos no Brasil. Tão poderosos e complexos que receberam o nome do deus
do trovão: Tupanvirus. Não que ele seja
uma ameaça à vida na terra.
Apesar
de serem complexos e gigantes, os supervírus não causam doenças e tem preferência
por infectar amebas. O poder deles está muito além da capacidade infecciosa. A
descoberta e o estudo desses microrganismos podem mudar a classificação dos 3
domínios da vida, proposta e aceita desde 1977, e dar um fim naquela discussão
de que vírus não são seres vivos.
Os
dois Tupanvirus foram encontrados em ambientes aquáticos: um deles nas lagoas salinas
e alcalinas que ficam na região de Corumbá (MS), pelo pesquisador brasileiro Ivan
Bergier. O outro em sedimentos marinhos coletados por um robô da Petrobrás, a
aproximadamente 3 mil metros de profundidade, na Região da Bacia de Campos (RJ).
Eles podem atingir o tamanho de até 2,3 micrômetros (1 micrômetro corresponde a
1 milionésimo de metro), possuem cerca de 1,5 milhões de pares de bases de DNA,
e podem codificar até 1.425 tipos de proteínas. A capacidade desses vírus
gigantes garantiu a eles o título de vírus com a maior capacidade de síntese de
proteínas já visto, e com esse conjunto completo de genes, eles tornam-se menos
dependentes do parasitismo celular!
Além
de possuírem 1/3 dos seus genes completamente novos e desconhecidos, os Tupanvirus
possuem genes semelhantes aos que existem nos 3 grandes domínios da vida: Archaea
(organismos procariontes e quimiotróficos), Bacteria (organismos procariontes e
unicelulares) e Eukarya (organismos eucariontes). Com o genoma bastante
sofisticado, eles ressuscitam uma grande discussão de 2003 em relação aos mimivírus.
Na época, os mimivírus foram identificados como os vírus com o maior capsídeo
já visto (o capsídeo é a camada externa e proteica que envolve o material
viral), eram capazes de carregar genes que reparavam, replicavam, transcreviam
e traduziam o DNA, e que poderiam ser infectados por um outro vírus. O
compartilhamento de tantas características com os seres vivos, e a capacidade
de adquirir doenças (assim como nós), levou os pesquisadores a considerarem o
vírus como um ser vivo, tirando ele do grupo “sem reino”. Pois agora essa
discussão voltou.
Isso
significa que eles podem ser um elo perdido na evolução dos microrganismos e
ainda fundamenta a discussão de que vírus são sim seres vivos. Os pesquisadores
ainda acreditam em 3 hipóteses: a 1ª é que os vírus gigantes evoluíram de um
ancestral mais simples, a partir da aquisição de genes infectados. A 2ª é a de
que os ancestrais dos Tupanvirus eram ainda mais gigantes e complexos, e que ao
longo do tempo perderam os genes dispensáveis. Uma 3ª hipótese acredita que os
Tupanvirus podem representar a criação de um 4º domínio da vida. Três hipóteses
e um fato: este é só o início de um grande debate científico e uma possível
revolução na árvore evolutiva.
Fontes: Nature 2008;
Science Advances 2015; Nature 2016; Embrapa, Nature Communications.
God bless you!
See you later. Take care!
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