Os
recentes casos de sarampo, no norte do Brasil, doença que já havia sido
controlada nas Américas desde 2016, deixou em alerta todo o país. Também em
junho de 2018, o Ministério da Saúde informou que há o risco de retorno da
poliomielite em algumas cidades em que a cobertura vacinal está bastante abaixo
da média. Por conta de certo descaso com a vacinação, diversas doenças que já
estavam controladas estão voltando e causando problemas de saúde pública.
A
imunização através da vacinação é a principal ferramenta de prevenção e controle
de doenças. Mas… Como funcionam as vacinas e por que deixar de tomá-las pode
provocar o retorno das doenças? Este texto contém as informações que você
precisa para contextualizar corretamente este assunto, se ele aparecer na prova
do vestibular/ENEM em 2019. Essa é uma de minhas apostas, então, detona!
COMO SURGIRAM AS
VACINAS?
Para
entender como surgiram as vacinas, vamos fazer uma viagem do século XXI ao
século XVIII, quando Edward Jenner descobriu a vacina antivariólica. A varíola era
uma doença infectocontagiosa que se tem registro desde 430 a.C., quando matou cerca
de ⅓ da população na Grécia. Durante muitos séculos o vírus dela circulou pelo mundo
e a doença se espalhou.
Foi
em 1796, que Edward Jenner fez a primeira descoberta de vacina que se tem registro.
O pesquisador observou que ao inserir uma secreção de alguém com a doença, em
outra pessoa saudável, esta pessoa desenvolvia sintomas brandos da doença e
tornava-se imune a ela, em vez de adoecer gravemente. Os experimentos e
descobertas foram possíveis a partir de uma outra doença, a cowpox (um tipo de varíola
que atingia vacas), quando Jenner descobriu que as pessoas que ordenhavam as
vacas estavam imunes à varíola humana.
A
partir daí começou a criação de novas vacinas. A palavra vem do latim, que
significa “da vaca”, por conta dos experimentos de Jenner. Através da vacinação
contra a varíola, a doença foi dada como erradicada desde 1980 pela Organização
Mundial da Saúde. O último caso registrado foi em 1977, em um homem no Sudão.
Desde então as vacinas tornaram-se instrumentos essenciais para prevenir e controlar
doenças em todo o mundo.
COMO FUNCIONAM AS
VACINAS?
As
vacinas atuam estimulando o organismo a produzir sua própria proteção
(anticorpos, por exemplo), sem que seja necessário ficar doente antes. Quando
um indivíduo é vacinado, ele recebe “uma imitação da doença” mais branda. Isso
faz com que o sistema imunológico produza uma defesa específica para combater o
vírus/ bactéria em questão. No momento em que esta pequena infecção é
eliminada, as células de defesa já terão criado uma “memória” da doença,
fazendo com que ela nunca mais se desenvolva (se todas as doses forem tomadas
no período correto).
A
maioria das vacinas é produzida a partir de fragmentos de microrganismos, ou
com microrganismos atenuados ou inativados. De acordo com a sua forma de
produção, elas podem ser classificadas em:
Vacina atenuada: feita a partir de uma
versão enfraquecida do vírus, que não causa doenças em pessoas com o sistema
imunológico saudável. Por conter uma versão enfraquecida do vírus vivo, causa
uma infecção natural, provocando uma resposta eficiente do nosso sistema de
defesa. Exemplos: caxumba, sarampo, rubéola.
Vacina inativa: produzida através de
microrganismos mortos (inteiros ou fragmentos). Por serem mais seguras,
desencadeiam uma resposta imunológica mais fraca (mas não menos eficiente). Por
conta disso, mais de 1 dose é necessária para que a defesa seja prolongada.
Exemplo: raiva, pólio, influenza.
Vacina com toxoide: desenvolvida a
partir de toxinas modificadas de bactérias. São capazes de prevenir doenças que
não são causadas por bactérias, mas por toxinas que elas produzem dentro do
corpo. Exemplos: difteria e tétano.
Vacina conjugada: combatem doenças causadas
por bactérias encapsuladas. Exemplo: pneumocócica 23.
A IMPORTÂNCIA DO
CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO
Com
o objetivo de diminuir a incidência, ou mesmo erradicar, algumas doenças, desde
1973 existe um calendário de vacinação no Brasil. O calendário contém quais
vacinas devem ser tomadas, o número de doses necessário, a idade e o período
que devem ser recebidas, em busca de uma proteção efetiva.
As
vacinas inativadas, geralmente, precisam de mais de uma dose para que uma
resposta imunológica seja potencializada. Outras vacinas, como a do tétano,
desencadeia uma proteção logo na primeira dose, que vai desaparecendo com o
tempo. Por isso um reforço é necessário, fazendo com que os níveis de imunidade
subam novamente.
Já
as vacinas contra a gripe não se enquadram em nenhum dos casos. Elas devem ser tomadas
anualmente, já que o vírus da gripe muda rapidamente e varia bastante ao longo
do tempo. Sua produção acontece a partir das variações do vírus que circulam em
cada ano.
Muita
gente acha que a caderneta e o calendário de vacinação devem ser descartados
depois que crescemos, mas isso está errado! Cada vez que um jovem, adulto ou
idoso abandona a vacinação assim que entra em uma dessas fases, temos um declínio
violento na cobertura vacinal de adultos.
A BAIXA COBERTURA
VACINAL
O
maior desafio para erradicar a doença é a dificuldade em imunizar todos os
cidadãos, ou boa parte dele. Para que não haja novos surtos de doenças, pelo
menos 95% da população precisa estar vacinada. No Brasil, desde 2013, a
cobertura vacinal para doenças como: caxumba,
sarampo e rubéola vêm caindo a cada ano. Ainda que as vacinas sejam
disponibilizadas gratuitamente pelo SUS, bater as metas vacinais tem sido cada vez
mais difícil.
Os
surtos de febre amarela, nos dois últimos
anos (2016/2017 e 2017/2018) nos mostraram como somos vulneráveis a alguns
tipos de doenças e seus vetores, como o conhecido Aedes. Não estamos nos vacinando e não sabemos se nossa carteira de
vacinação está em dia, e isso é grave para todo o país, não apenas para quem
deixar de se imunizar.
Mesmo
depois do vínculo entre a vacinação e o autismo ter sido desmentido, ainda existem
pessoas com medo (ou descrença) nas vacinas. Para “ajudar”, todos os dias,
novas Fake News são veiculadas e compartilhadas nas mídias, fazendo com que
mais pessoas se apropriem de um conhecimento incerto e na maioria das vezes
errado.
POR QUE AS DOENÇAS
ESTÃO VOLTANDO?
O
recente surto de sarampo na região norte do Brasil, colocou as autoridades de saúde
em alerta. Apesar do sarampo ter sido erradicado nas Américas em 2016, mais de
463 casos foram registrados somente no Brasil em 2018. E o sarampo não veio
sozinho… Um caso de poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, foi
registrado no início de junho/2018 na Venezuela, país vizinho do Brasil. Não há
registros de casos de polio no Brasil desde 1989, mas a baixa cobertura vacinal
e o caso da Venezuela, nos mostram que o vírus ainda está em circulação, e que
estamos vulneráveis ao retorno dessa (e de outras, por que não?) doença.
A
paralisia infantil, destrói os neurônios do sistema nervoso, provocando
paralisia total ou parcial, principalmente no grupo mais vulnerável à doença:
as crianças. A popularização da campanha de vacinação contra a doença ficou
popular na década de 80 por conta do personagem Zé Gotinha. Lembra dele? O
personagem tinha por objetivo deixar a vacinação mais atraente às crianças,
além de conscientizar sobre a importância em se imunizar contra a doença. O
personagem também participou de campanhas para a prevenção do sarampo, por
exemplo.
Um
estudo realizado pela Universidade de Stanford indicou que uma queda de 5% na cobertura
vacinal em crianças com idade entre 2 e 11 anos, poderia triplicar os casos anuais
de sarampo somente nesta faixa etária. Por mais que exista uma pequena parcela
da população que não pode ser vacinada (principalmente quem possui o sistema
imunológico comprometido), as demais devem procurar a imunização, evitando de se
tornar vetor da doença.
DE QUEM É A CULPA?
Não
podemos ser hipócritas generalizando que a baixa cobertura vacinal seja por
conta de movimentos antivacinas, medo ou de pais descuidados com a saúde do seu
filho. O desabastecimento de vacinas essenciais nos postos de saúde e a falta
de recursos municipais para a gestão de programas de vacinação, são problemas
gravíssimos que influenciam (e muito) na disseminação das doenças
infectocontagiosas.
Municípios
com baixa cobertura vacinal devem se reorganizar, criando estratégias que
busquem uma maior adesão da vacinação pela população. Os postos de saúde ficam
abertos somente em horário comercial e de 2ª a 6ª feira. A adequação do serviço
de saúde, estendendo os horários de atendimento durante a semana, ou com
plantões que contemplem sábados e domingos, seria uma boa alternativa para quem
não consegue comparecer a uma unidade de saúde durante a semana. É possível
ainda ir além, com programas de vacinação de casa em casa, que alcancem também
pessoas que, por algum motivo, não têm autonomia para ir até um posto de saúde.
Além
disso, as campanhas de divulgação de vacinação devem ser ampliadas, principalmente
mostrando a importância da vacinação e a segurança desse importante instrumento
de imunização.
LIBERDADE DE ESCOLHA
Até
onde vai a liberdade de escolha dos pais, em decidirem pela vacinação do filho?
Devem ser considerados criminosos? Pagar multas? A verdade é que, pelo menos no
Brasil, a vacina gratuita deixou de ser um direito e passou a ser uma
obrigação. Por exemplo, na Austrália, em 2016, foi lançada uma campanha que
vacinou milhares de crianças pela primeira vez, tudo porque pais que se
recusassem a imunizar os seus bebês seriam taxados com uma multa de até US$ 15.000
por ano! A introdução desta política fez com que a cobertura nacional atingisse
93% das crianças, de 1 a 5 anos.
Cabe
relembrar que no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente deixa claro que
vacinar é uma questão de obrigação “é obrigatória à vacinação das crianças nos casos
recomendados pelas autoridades sanitárias” (art. 14). Se levarmos em consideração
à bioética, o ato de vacinar deixa de ser uma decisão pessoal e pode ser
considerado um ato de responsabilidade coletiva, já que compromete todo o bem-estar
de uma população.
Deixar
de se imunizar por motivo de uma doença está sumida, ou não é registrada há
muitos anos, é contribuir com um possível retorno dela. Os agentes infecciosos
de doenças continuam circulando em diversas partes do mundo e conseguem
facilmente atravessar fronteiras geográficas. Programas de vacinação bem sucedidos
dependem da cooperação de todos! As vacinas não protegem somente quem as
recebe, e atualmente são os únicos instrumentos capazes de controlar a
disseminação e a erradicação de doenças de forma efetiva.
Fontes:
Fiocruz (I) e (II), Ministério da Saúde, JAMA.
God bless you!
See you later. Take care!
Vacinação é muito importante, independentemente de uma doença estar "sumida", de repente pode esse vírus voltar e pegar a gente desprevenido. Então vamos nos vacinar pessoal...
ResponderExcluirFalou bonito, Jardel! Obrigado!
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