segunda-feira, 16 de setembro de 2019

VACINAÇÃO, SAÚDE PÚBLICA E LIBERDADE DE ESCOLHA

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Os recentes casos de sarampo, no norte do Brasil, doença que já havia sido controlada nas Américas desde 2016, deixou em alerta todo o país. Também em junho de 2018, o Ministério da Saúde informou que há o risco de retorno da poliomielite em algumas cidades em que a cobertura vacinal está bastante abaixo da média. Por conta de certo descaso com a vacinação, diversas doenças que já estavam controladas estão voltando e causando problemas de saúde pública.

A imunização através da vacinação é a principal ferramenta de prevenção e controle de doenças. Mas… Como funcionam as vacinas e por que deixar de tomá-las pode provocar o retorno das doenças? Este texto contém as informações que você precisa para contextualizar corretamente este assunto, se ele aparecer na prova do vestibular/ENEM em 2019. Essa é uma de minhas apostas, então, detona!

COMO SURGIRAM AS VACINAS?

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Para entender como surgiram as vacinas, vamos fazer uma viagem do século XXI ao século XVIII, quando Edward Jenner descobriu a vacina antivariólica. A varíola era uma doença infectocontagiosa que se tem registro desde 430 a.C., quando matou cerca de ⅓ da população na Grécia. Durante muitos séculos o vírus dela circulou pelo mundo e a doença se espalhou.

Foi em 1796, que Edward Jenner fez a primeira descoberta de vacina que se tem registro. O pesquisador observou que ao inserir uma secreção de alguém com a doença, em outra pessoa saudável, esta pessoa desenvolvia sintomas brandos da doença e tornava-se imune a ela, em vez de adoecer gravemente. Os experimentos e descobertas foram possíveis a partir de uma outra doença, a cowpox (um tipo de varíola que atingia vacas), quando Jenner descobriu que as pessoas que ordenhavam as vacas estavam imunes à varíola humana.

A partir daí começou a criação de novas vacinas. A palavra vem do latim, que significa “da vaca”, por conta dos experimentos de Jenner. Através da vacinação contra a varíola, a doença foi dada como erradicada desde 1980 pela Organização Mundial da Saúde. O último caso registrado foi em 1977, em um homem no Sudão. Desde então as vacinas tornaram-se instrumentos essenciais para prevenir e controlar doenças em todo o mundo.

COMO FUNCIONAM AS VACINAS?

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As vacinas atuam estimulando o organismo a produzir sua própria proteção (anticorpos, por exemplo), sem que seja necessário ficar doente antes. Quando um indivíduo é vacinado, ele recebe “uma imitação da doença” mais branda. Isso faz com que o sistema imunológico produza uma defesa específica para combater o vírus/ bactéria em questão. No momento em que esta pequena infecção é eliminada, as células de defesa já terão criado uma “memória” da doença, fazendo com que ela nunca mais se desenvolva (se todas as doses forem tomadas no período correto).

A maioria das vacinas é produzida a partir de fragmentos de microrganismos, ou com microrganismos atenuados ou inativados. De acordo com a sua forma de produção, elas podem ser classificadas em:

Vacina atenuada: feita a partir de uma versão enfraquecida do vírus, que não causa doenças em pessoas com o sistema imunológico saudável. Por conter uma versão enfraquecida do vírus vivo, causa uma infecção natural, provocando uma resposta eficiente do nosso sistema de defesa. Exemplos: caxumba, sarampo, rubéola.

Vacina inativa: produzida através de microrganismos mortos (inteiros ou fragmentos). Por serem mais seguras, desencadeiam uma resposta imunológica mais fraca (mas não menos eficiente). Por conta disso, mais de 1 dose é necessária para que a defesa seja prolongada. Exemplo: raiva, pólio, influenza.

Vacina com toxoide: desenvolvida a partir de toxinas modificadas de bactérias. São capazes de prevenir doenças que não são causadas por bactérias, mas por toxinas que elas produzem dentro do corpo. Exemplos: difteria e tétano.

Vacina conjugada: combatem doenças causadas por bactérias encapsuladas. Exemplo: pneumocócica 23.

A IMPORTÂNCIA DO CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO

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Com o objetivo de diminuir a incidência, ou mesmo erradicar, algumas doenças, desde 1973 existe um calendário de vacinação no Brasil. O calendário contém quais vacinas devem ser tomadas, o número de doses necessário, a idade e o período que devem ser recebidas, em busca de uma proteção efetiva.

As vacinas inativadas, geralmente, precisam de mais de uma dose para que uma resposta imunológica seja potencializada. Outras vacinas, como a do tétano, desencadeia uma proteção logo na primeira dose, que vai desaparecendo com o tempo. Por isso um reforço é necessário, fazendo com que os níveis de imunidade subam novamente.

Já as vacinas contra a gripe não se enquadram em nenhum dos casos. Elas devem ser tomadas anualmente, já que o vírus da gripe muda rapidamente e varia bastante ao longo do tempo. Sua produção acontece a partir das variações do vírus que circulam em cada ano.

Muita gente acha que a caderneta e o calendário de vacinação devem ser descartados depois que crescemos, mas isso está errado! Cada vez que um jovem, adulto ou idoso abandona a vacinação assim que entra em uma dessas fases, temos um declínio violento na cobertura vacinal de adultos.

A BAIXA COBERTURA VACINAL

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O maior desafio para erradicar a doença é a dificuldade em imunizar todos os cidadãos, ou boa parte dele. Para que não haja novos surtos de doenças, pelo menos 95% da população precisa estar vacinada. No Brasil, desde 2013, a cobertura vacinal para doenças como: caxumba, sarampo e rubéola vêm caindo a cada ano. Ainda que as vacinas sejam disponibilizadas gratuitamente pelo SUS, bater as metas vacinais tem sido cada vez mais difícil.

Os surtos de febre amarela, nos dois últimos anos (2016/2017 e 2017/2018) nos mostraram como somos vulneráveis a alguns tipos de doenças e seus vetores, como o conhecido Aedes. Não estamos nos vacinando e não sabemos se nossa carteira de vacinação está em dia, e isso é grave para todo o país, não apenas para quem deixar de se imunizar.

Mesmo depois do vínculo entre a vacinação e o autismo ter sido desmentido, ainda existem pessoas com medo (ou descrença) nas vacinas. Para “ajudar”, todos os dias, novas Fake News são veiculadas e compartilhadas nas mídias, fazendo com que mais pessoas se apropriem de um conhecimento incerto e na maioria das vezes errado.

POR QUE AS DOENÇAS ESTÃO VOLTANDO?

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O recente surto de sarampo na região norte do Brasil, colocou as autoridades de saúde em alerta. Apesar do sarampo ter sido erradicado nas Américas em 2016, mais de 463 casos foram registrados somente no Brasil em 2018. E o sarampo não veio sozinho… Um caso de poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, foi registrado no início de junho/2018 na Venezuela, país vizinho do Brasil. Não há registros de casos de polio no Brasil desde 1989, mas a baixa cobertura vacinal e o caso da Venezuela, nos mostram que o vírus ainda está em circulação, e que estamos vulneráveis ao retorno dessa (e de outras, por que não?) doença.

A paralisia infantil, destrói os neurônios do sistema nervoso, provocando paralisia total ou parcial, principalmente no grupo mais vulnerável à doença: as crianças. A popularização da campanha de vacinação contra a doença ficou popular na década de 80 por conta do personagem Zé Gotinha. Lembra dele? O personagem tinha por objetivo deixar a vacinação mais atraente às crianças, além de conscientizar sobre a importância em se imunizar contra a doença. O personagem também participou de campanhas para a prevenção do sarampo, por exemplo.

Um estudo realizado pela Universidade de Stanford indicou que uma queda de 5% na cobertura vacinal em crianças com idade entre 2 e 11 anos, poderia triplicar os casos anuais de sarampo somente nesta faixa etária. Por mais que exista uma pequena parcela da população que não pode ser vacinada (principalmente quem possui o sistema imunológico comprometido), as demais devem procurar a imunização, evitando de se tornar vetor da doença.

DE QUEM É A CULPA?

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Não podemos ser hipócritas generalizando que a baixa cobertura vacinal seja por conta de movimentos antivacinas, medo ou de pais descuidados com a saúde do seu filho. O desabastecimento de vacinas essenciais nos postos de saúde e a falta de recursos municipais para a gestão de programas de vacinação, são problemas gravíssimos que influenciam (e muito) na disseminação das doenças infectocontagiosas.

Municípios com baixa cobertura vacinal devem se reorganizar, criando estratégias que busquem uma maior adesão da vacinação pela população. Os postos de saúde ficam abertos somente em horário comercial e de 2ª a 6ª feira. A adequação do serviço de saúde, estendendo os horários de atendimento durante a semana, ou com plantões que contemplem sábados e domingos, seria uma boa alternativa para quem não consegue comparecer a uma unidade de saúde durante a semana. É possível ainda ir além, com programas de vacinação de casa em casa, que alcancem também pessoas que, por algum motivo, não têm autonomia para ir até um posto de saúde.

Além disso, as campanhas de divulgação de vacinação devem ser ampliadas, principalmente mostrando a importância da vacinação e a segurança desse importante instrumento de imunização.

LIBERDADE DE ESCOLHA

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Até onde vai a liberdade de escolha dos pais, em decidirem pela vacinação do filho? Devem ser considerados criminosos? Pagar multas? A verdade é que, pelo menos no Brasil, a vacina gratuita deixou de ser um direito e passou a ser uma obrigação. Por exemplo, na Austrália, em 2016, foi lançada uma campanha que vacinou milhares de crianças pela primeira vez, tudo porque pais que se recusassem a imunizar os seus bebês seriam taxados com uma multa de até US$ 15.000 por ano! A introdução desta política fez com que a cobertura nacional atingisse 93% das crianças, de 1 a 5 anos.

Cabe relembrar que no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente deixa claro que vacinar é uma questão de obrigação “é obrigatória à vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias” (art. 14). Se levarmos em consideração à bioética, o ato de vacinar deixa de ser uma decisão pessoal e pode ser considerado um ato de responsabilidade coletiva, já que compromete todo o bem-estar de uma população.

Deixar de se imunizar por motivo de uma doença está sumida, ou não é registrada há muitos anos, é contribuir com um possível retorno dela. Os agentes infecciosos de doenças continuam circulando em diversas partes do mundo e conseguem facilmente atravessar fronteiras geográficas. Programas de vacinação bem sucedidos dependem da cooperação de todos! As vacinas não protegem somente quem as recebe, e atualmente são os únicos instrumentos capazes de controlar a disseminação e a erradicação de doenças de forma efetiva.

Fontes: Fiocruz (I) e (II), Ministério da Saúde, JAMA.

God bless you!
See you later. Take care!



2 comentários:

  1. Vacinação é muito importante, independentemente de uma doença estar "sumida", de repente pode esse vírus voltar e pegar a gente desprevenido. Então vamos nos vacinar pessoal...

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