A observação de que certas características eram passadas de uma geração a outra é muito antiga. A domesticação de animais foi feita pelo homem, através da seleção de organismos. A utilização de plantas na alimentação, também passou por um processo de seleção feita pelo homem e pelo processo de cruzamento contínuo dos indivíduos selecionados. Isso também ocorreu com as raças de cães, gatos, gado e galinhas.
A partir desses experimentos, o homem tornou-se curioso em saber explicar, como eram obtidos os resultados. Muitas explicações surgiram, sem base científica e com ideias preconceituosas. Um exemplo era a teoria do homunculus. Quando da invenção dos primeiros microscópios, o esperma passou a ser um dos materiais biológicos mais estudados. Os primeiros microscopistas diziam existir, dentro de cada espermatozoide, uma pessoa “em miniatura”.
De acordo com o que
se passou a acreditar, o homunculus
deveria se implantar no útero depois da relação sexual, desenvolvendo-se até se
transformar em uma criança.
Outra ideia que
surgiu, era que uma gestação sofria influência de tudo o que era visto pela mãe;
assim, se uma criança nascia com muitos pelos no rosto, era porque a mãe havia
olhado o retrato de um santo barbudo.
Vários cientistas tentaram explicar o processo de hereditariedade, mas somente o monge beneditino Johann Gregor Mendel, na década de 1860, conseguiu esclarecer o fenômeno. Ele viveu a maior parte de sua vida num convento da cidade de Berna, na Moravia (atual República Checa).
Mendel utilizou plantas em seus experimentos, de forma que pode desenvolver uma teoria que explicava de forma geral os fenômenos da herança. Outros cientistas não conseguiram os mesmos resultados porque observavam as características todas ao mesmo tempo; esse procedimento permitia apenas a observação das semelhanças e diferenças entre pais e filhos, mas não explicava como isso era possível.
Durante anos, Mendel
trabalhou selecionando, plantando e cruzando ervilhas e analisando os resultados.
Seu trabalho se notabilizou pela precisão do método utilizado.
Os resultados dos
trabalhos de Mendel com ervilhas-de-cheiro (Pisum sativum) revelaram uma
explicação aceita até os dias de hoje. Mesmo as mais modernas técnicas de
Citologia não contradisseram nenhum dos principais postulados de Mendel, apenas
complementando alguns aspectos que não haviam sido totalmente explicados.
Os resultados dos
trabalhos de Mendel, publicados em uma revista científica em 1868, ficaram
esquecidos por mais de 30 anos, e só foram redescobertos no começo do século
XX, pelo holandês Hugo de Vries, pelo austríaco Erich von Tschermak e pelo
alemão Karl Correns.
O TRABALHO DE MENDEL
Ao estudar a
transmissão de características, Mendel obteve os melhores resultados
trabalhando com ervilhas. Essa planta apresenta uma série de características
vantajosas, tais como:
- Ser de fácil
cultivo, pouco exigente quanto à nutrição e ao espaço;
- Gerar um grande
número de descendentes, para que os resultados obtidos tenham validade
estatística;
- Alcançarem a
maturidade sexual rapidamente, para que o pesquisador possa observar várias
gerações sucessivas em um curto espaço de tempo;
- Suas flores só
realizam autofecundação, ou seja, os gametas femininos de uma flor só podem ser
fecundados por gametas masculinos da mesma flor.
POR QUE ISSO REPRESENTA UMA VANTAGEM PARA O CIENTISTA?
Não ocorrendo
fecundação cruzada, inexiste a possibilidade de, em um canteiro, os cruzamentos
ocorrerem ao acaso. Com o auxílio de um pincel, Mendel retirava o pólen de uma
flor e colocava-o sobre o sistema reprodutor feminino de uma outra flor.
Mendel removia o sistema reprodutor masculino de algumas plantas antes que elas alcançassem a maturidade sexual, e essas plantas eram fecundadas artificialmente. Dessa forma, Mendel obtinha controle absoluto sobre os cruzamentos que iriam ou não ocorrer.
Mendel teve mais duas preocupações, além da adequada escolha do material de trabalho: analisava apenas uma ou duas características em cada cruzamento e observava apenas características para as quais havia variedades bem discrepantes e fáceis de serem diferenciadas.
Os dois primeiros
anos de seus trabalhos com as ervilhas-de-cheiro foram dedicados à obtenção de
linhagens puras, resultantes de inúmeras gerações de plantas obtidas por
autofecundação, sempre idênticas às plantas ancestrais.
Uma vez separadas
todas essas variedades puras em canteiros distintos, Mendel começou a realizar
hibridizações, ou seja, cruzamentos entre plantas de linhagens diferentes. Suas
mais importantes conclusões foram obtidas ao analisar os resultados dessas
hibridizações.
Vamos tomar como
primeiro exemplo a cor das ervilhas: Mendel cruzou plantas puras de ervilhas
amarelas com plantas puras de ervilhas verdes. A geração constituída por
plantas puras diferentes para certa característica era chamada geração
parental, representada pela letra P.
A primeira geração de descendentes é a primeira geração filial, ou geração F1.
As plantas da geração
F1, descendentes do cruzamento das
duas variedades puras da geração parental, eram plantas que geravam ervilhas
amarelas. A característica que se manifesta em todos os indivíduos da geração F1 foi chamada por Mendel de dominante;
a característica encoberta era a recessiva.
As plantas da geração
F1 foram, então, autofecundadas, e a
geração resultante foi chamada de segunda geração filial, ou geração F2.
Nessa segunda
geração, Mendel obteve, novamente, plantas ervilhas amarelas, mas voltaram a
aparecer plantas de ervilhas verdes. Uma constatação importante foi que, em
todos os cruzamentos realizados, a proporção obtida na geração F2 era sempre a mesma: 3 plantas de ervilhas
amarelas para 1 planta de ervilha verde (3:1).
Havia três perguntas a serem respondidas:
1. Por que a
característica ervilha verde havia aparentemente “desaparecido” na geração F1?
2. Por que tal
característica voltava a se manifestar na geração F2?
3. Por que, na
geração F2, a proporção entre plantas de ervilhas amarelas e plantas de ervilhas
verdes era sempre igual a 3:1?
Mendel propôs explicações:
Todas as
características são condicionadas por um par de fatores, que podem ser encontrados
em duas formas alternativas. Para a cor das ervilhas, um fator condiciona o
aparecimento de ervilha amarela e outro fator condiciona o aparecimento de
ervilha verde. Em um par de fatores, cada um foi recebido de um dos dois
ancestrais.
Se uma planta tem
dois fatores diferentes para uma mesma característica, um deles se manifesta e
o outro permanece oculto. O que se expressa é o dominante; o que permanece oculto
é o recessivo.
Durante a formação
dos gametas, que são as células reprodutivas, cada par de fatores segrega-se,
ou seja, separa-se de tal forma que cada gameta recebe apenas um fator de cada
par, sendo sempre puro.
A partir destas
perguntas, Mendel propôs alguns princípios que depois viriam a ser chamados de
Leis de Mendel, cujas aplicações são largamente utilizadas em pesquisas
genéticas até hoje.
TERMOS COMUNS DA GENÉTICA
Em genética, algumas
expressões são bastante empregadas para padronizar determinados conceitos.
Gene: segmento do DNA responsável por uma
determinada característica;
Genes Alelos: são aqueles que ocupam posições
correspondentes num par de cromossomos homólogos e determinam a mesmo caráter;
Gene Dominante: é aquele que se
manifesta mesmo na presença de apenas um dos alelos;
Gene Recessivo: é aquele que só se manifesta
na presença dos dois alelos;
Fenótipo: é a manifestação física ou fisiológica do
gene. O fenótipo pode ser influenciado pelo meio ambiente;
Genótipo: é o conjunto de genes que existem nas
células do indivíduo;
Homozigoto: indivíduo que possui os dois alelos
iguais (dois dominantes ou dois recessivos);
Heterozigoto: indivíduo que possui alelos diferentes (um dominante e outro recessivo);
Heterozigoto: indivíduo que possui alelos diferentes (um dominante e outro recessivo);
Fenocópia: quando o fenótipo, por ação do meio
ambiente, imita uma característica diferente daquela determinada pelo genótipo.
Por exemplo: uma pessoa que tinge o cabelo está imitando um fenótipo
correspondente a um genótipo diferente do seu;
Cromossomos Autossômicos: são aqueles que
formam pares idênticos nas células femininas e masculinas;
Cromossomos sexuais: formam um par cujos
componentes são diferentes nas células dos machos e das fêmeas;
Células Diploides: são aquelas que apresentam
os cromossomos aos pares;
Células Haploides: são aquelas que apresentam
apenas um componente de cada par de homólogos;
Característica Congênita: é aquela resultante
de uma má formação fetal, estimulada ou não, por agentes externos do meio;
Característica Hereditária: é aquela resultante
da combinação de genes alelos no ato da fecundação. São genes herdados dos nossos
pais biológicos;
Característica Adquirida: é aquela resultante
da ação do meio sobre o organismo do indivíduo. Não altera, com isso, as
características hereditárias;
Norma de reação: a norma de reação é
o conjunto de expressões fenotípicas de um determinado genótipo sob diferentes condições
impostas pelo ambiente.
DE ACORDO COM
PESQUISADORES, 75% DO NOSSO GENOMA NÃO SERVE PARA NADA.
Nosso DNA é rodeado
de mistérios que começaram a ser esclarecidos na década de 50, com a descoberta
da estrutura da dupla hélice por Watson e Crick. Depois de 40 anos, na década
de 90, nossos genes ganharam uma maior ênfase com o Projeto Genoma Humano.
Quando os primeiros resultados do Projeto foram publicados, descobriu-se que o
nosso genoma possui apenas 2% de genes funcionais. Os outros 98% eram de DNA não
funcional, que ganhou o nome de DNA lixo. Pode parecer estranho ter tanto DNA sem
nenhuma função, mas a evolução pode explicar!
Claro que não foi tão
simples chegar a esta conclusão, e em 2012 o Projeto Encode – um consórcio financiado
por pesquisadores – já buscava explicações para 98% dos nossos genes. O projeto
concluiu que o DNA lixo não tinha nada de lixo e que 98% dos nossos genes
possuíam importantes funções reguladoras, que aumentavam e diminuíam a
expressão gênica, por exemplo. Mas como a ciência nos proporciona novas
descobertas diariamente, e este conceito parece ter mudado.
De acordo com um
estudo publicado por pesquisadores da Universidade de Houston, no dia 11 de
julho, a porção funcional do genoma humano é de somente 10 a 15% de nosso DNA,
podendo chegar a no máximo 25%. O restante pode sim ser considerado “lixo”.
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores basearam-se em cálculos matemáticos
simples e no modo como ocorrem às mutações. Por exemplo, quando ocorrem
mutações no DNA lixo, nada acontece, já que o código genético daquela região
não é responsável por nada. Agora, quando ocorre uma mutação em nosso DNA funcional,
elas podem ser prejudiciais ou mesmo letais, afetando tecidos saudáveis e processos
biológicos importantes.
Bom, mas aí fica a
grande pergunta: por que a maior parte do nosso DNA não tem função? Se tivermos
uma menor quantidade de DNA funcional, estamos menos expostos aos riscos de
mutações perigosas que podem prejudicar o crescimento da prole ou mesmo a nossa
sobrevivência. Uma menor região funcional implica em menos erros a serem corrigidos,
e mais tempo de sobrevivência.
Novas pesquisas para
entender e conhecer a fração funcional do DNA são de fundamental importância!
Estas descobertas serão essenciais para a realização de estudos que podem
prevenir ou mesmo curar muitas doenças que temos atualmente.
Fonte: Genome
Biology and Evolution.
God bless you!
See you later. Take care!
O cara começou estudando uma ervilha e hoje é considerado o Pai da Genética, nunca desista dos seus sonhos.
ResponderExcluirProfessor, achei a CARACTERISTICA ADQUIRIDA algo importante, só que não conseguir entender direito, poderia me explicar?
Característica adquirida é por exemplo, Felipe, quando uma pessoa sofre um acidente e perde uma perna. Isso é adquirido! Sendo assim essa pessoa não passa a característica para seus filhos! Os filhos não nascerão sem pernas.
ResponderExcluirValeu!
Muito Obrigado, Professor! 'u'
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