Introdução
Localizada
na área mais a leste da América do Sul, a Caatinga ocupa quase 11% do
território nacional. Diferente dos demais biomas, ela é exclusiva do Brasil. Não por acaso, sempre é associada à região
Nordeste: 98% da sua área está inserida nessa região, estando o restante em
Minas Gerais.
Habitada
há milhares de anos por grupos indígenas, a “caatinga” é uma palavra de origem
tupi-guarani e significa “Mata branca”.
Esse nome é uma referência direta ao tronco esbranquiçado das plantas caducifólias, como são chamadas
as que perdem suas folhas durante o período de seca.
Atualmente,
vivem mais de 27 milhões de pessoas dentro da Caatinga, sendo a região semiárida mais povoada em todo planeta.
Chamados popularmente de Sertanejos, os habitantes locais são personagens de
grandes obras literárias brasileiras, como por exemplo, “O Grande Sertão
Veredas”, de João Guimarães Rosa.
Além
de retratar o sofrimento da população, Guimarães Rosa traz em seus livros
elementos importantes da paisagem do Bioma. Dentre os fatores abióticos,
destaca-se a alta luminosidade solar,
o relevo plano e o solo raso e pedregoso.
Mesmo
que todas essas características sejam importantes na representação do Bioma, a
Caatinga é muito mais do que o sertão nordestino. Ela abriga biodiversidade e
riqueza muito pouco conhecidas pela ciência.
LAMPIÃO, O REI DO CANGAÇO
Símbolo
do banditismo social do séc. XX, Virgulino Ferreira da Silva marcou a história
como Lampião. Nascido em 1898 no interior de Pernambuco, Lampião entrou para um
bando de cangaceiros antes de completar 18 anos. Pouco tempo depois, se tornou líder
do grupo, o qual ganhou destaque nacional sob o seu comando.
Odiado
por muitos, especialmente grandes fazendeiros, Lampião conduzia saques violentos.
Por conhecer muito bem a Caatinga, conseguia sempre fugir para dentro da
vegetação. A dificuldade de se locomover na mata era tamanha que mesmo a
perseguição de Lampião tendo se iniciado em 1930, só foi morto em 1938.
CLIMA
Situada
próximo ao Oceano Atlântico, e entre a Mata Atlântica e o Cerrado, a Caatinga
tem como principal característica o clima
semiárido. Mantendo uma temperatura
média de 25 °C, essa região apresenta o menor índice pluviométrico do
Brasil, variando em média entre 500 a
700mm anuais.
É
importante ressaltar que as chuvas não
são constantes nesse Bioma, sendo concentradas entre os meses de dezembro a abril. No restante do ano,
entre maio a novembro, ocorre um período de estiagem conhecido popularmente
como período de seca.
A
existência desse clima semiárido é decorrente do relevo que impede a chegada
das massas de ar úmidas para dentro do continente. Cercado de planaltos e
chapadas, o interior do Bioma é uma grande depressão, conhecida como Depressão Sertaneja. Dessa maneira, toda
chuva acaba sendo barrada nas áreas mais altas, não conseguindo atingir a
região central da Caatinga.
Uma
das poucas formas constantes de chegada de água para dentro do sertão nordestino
é através de rios. Contudo, em decorrência de um solo arenoso e de rápida
infiltração, somado às altas temperaturas, poucos corpos hídricos se mantêm no
auge da seca. Torna-se então como característica geográfica a presença de
inúmeros rios intermitentes.
FLORA
As
características hídricas são fatores fundamentais para toda biodiversidade
vegetal na região. Possuindo normalmente características xeromórficas, essas plantas podem ser divididas entre as que armazenam água e as que diminuem a perda de água.
Algumas,
como os cactos, por exemplo, unem ambas as adaptações, acumulando água e
reduzindo as folhas a espinhos.
Atualmente
são conhecidas mais de 3.000 espécies de
plantas, sendo quase 25%, endêmicas ao Bioma. Acredita-se que
essa diversidade da flora está relacionada tanto com as grandes variações do solo,
como com as condições únicas quando comparado com as formações fronteiriças de
Cerrado, Mata Atlântica e Floresta Amazônica.
Dessa
maneira, a vegetação da Caatinga não é homogênea, podendo ser dividida em duas
paisagens distintas.
A
mais conhecida dentre os tipos de vegetação é a Caatinga Arbustiva. Ocupando mais de 60% da área do Bioma, essa
paisagem tem uma grande diversidade de cactáceas e suas árvores não formam um
dossel. Em alguns locais, o emaranhado de árvores forma uma densa mata, chamada
de Carrasco.
Em
locais mais férteis e com a presença de água, ocorre a Mata Seca. Característica de encostas e de regiões mais altas, e
com dossel fechado, essa é a formação vegetal que deu origem ao Bioma.
Dependendo da região e da vegetação, as árvores podem atingir mais de 15m e no
período de seca podem perder todas as
folhas, ou apenas parte delas.
Independente
disso, toda a matéria orgânica que acaba caindo no solo entra em decomposição,
formando uma fina camada de húmus. Nesse processo, muitos nutrientes acabam
sendo reciclados, sendo imprescindíveis para a manutenção da mata seca.
Durante
os curtos períodos úmidos, diversas plantas conseguem iniciar ou finalizar seus
ciclos reprodutivos. Logo com as
primeiras chuvas, milhares de sementes iniciam a germinação, chegando a forrar
o chão com novas plantas. Ao mesmo tempo, indivíduos adultos iniciam suas
florações e frutificações, que irão gerar sementes para o ano seguinte.
Todos
os processos devem ocorrer em um intervalo de tempo curto, porque tanto os
primeiros dias dos brotos de plantas, como a produção de flores e frutos, têm gastos energéticos significativos. Ou
seja, nessas etapas da vida das plantas, o metabolismo necessita de uma demanda
muito grande de nutrientes e de água para serem repostos.
Não
o bastante, é também no período de chuvas que grande parte dos animais voltam à
atividade no Bioma. Iniciando a floração, muitos insetos acabam indo se
alimentar nas flores, polinizando as plantas. Quando os frutos estão formados,
estes servem de alimento para diversos animais, que acabam dispersando as
sementes.
FAUNA
Embora
uma biodiversidade animal menor que as regiões florestais, a Caatinga é uma das
regiões semiáridas mais diversas do mundo. São reconhecidas mais de 1000
espécies de vertebrados e inúmeras de invertebrados. Muitas ainda não
conhecidas pela ciência.
Destaca-se
também que assim como as plantas, muitas espécies de animais são exclusivas
desse Bioma, especialmente no grupo dos peixes. São conhecidas 240 espécies que
habitam a Caatinga. Dessas, 136 são exclusivas desse Bioma.
Nos
rios intermitentes, os peixes mantêm o padrão de pequeno porte, medindo alguns
centímetros. Durante o período de seca, esses animais se concentram em poças de
água ou acabam se enterrando e mantendo o metabolismo lento.
Com
a chegada das chuvas e a volta dos rios, se inicia a época de reprodução da
maior parte das espécies, gerando milhares de ovos. Dentre as principais adaptações
de sobrevivência do embrião, estão a resistência dos ovos e o lento desenvolvimento,
podendo durar quase um ano completo.
Igualmente,
outros grupos de vertebrados também são habituados à vida na seca, se
deslocando para diferentes regiões ao longo do ano. Esse comportamento é característico
de mais da metade de quase todas as 510 espécies de aves da Caatinga.
Durante
os meses mais secos, essas aves acabam voando para as regiões de mata seca, em
busca de uma maior umidade e alimento. Essa migração também pode ocorrer em
longas distâncias, como por exemplo, o Bigodinho, que voa até a Venezuela,
todos os anos.
Entretanto,
alguns grupos não conseguem se deslocar por tantos quilômetros, sendo mais
suscetíveis às mudanças climáticas anuais. Dentre esses estão os répteis, sendo representados por 116 espécies.
Divididos
entre jacarés, quelônios, lagartos e serpentes, esses dois últimos grupos
representam 90% das espécies de répteis encontradas. Dentre as regiões mais
importantes para esse grupo, estão as Dunas
do São Francisco, no interior da Bahia. Nessa região vivem mais de 1/3 das
espécies de lagartos da Caatinga, muitas delas endêmicas.
Em
contraponto, os mamíferos presentes na Caatinga são em suma maioria encontrados
em outros Biomas. Das 143 espécies encontradas, apenas 19 delas são exclusivas
da região semiárida brasileira. Mesmo sempre sendo o grupo mais lembrado pela
população em geral, pouco se sabe sobre o comportamento desses animais em
períodos de seca.
Dispersos
em todas as paisagens do Bioma, os mamíferos e os sertanejos sempre tiveram uma
relação muito próxima. Diversas lendas, cordéis e músicas são inspirados nos
hábitos desses animais. Ao mesmo tempo, muitos mamíferos são amplamente caçados.
Por isso, diversas espécies estão ameaçadas de extinção.
CHAPADA DO ARARIPE, LAR DOS DINOSSAUROS BRASILEIROS
Com
milhares de fósseis já descobertos, a Chapada do Araripe é uma das regiões mais
importantes da pré-história do Brasil. Além de abrigar um dos mais importantes sítios
arqueológicos do mundo, essa área, localizada entre os estados do Ceará e
Pernambuco, também conta sobre as mudanças climáticas da Caatinga.
Há
aproximadamente 130 milhões de anos, quase todo nordeste brasileiro era oceano,
sendo a Chapada um grande litoral. Constituída por uma incrível fauna, pisaram
na região mais de 300 espécies de dinossauros e um dos maiores pterossauros do
mundo, medindo mais de 5 metros de envergadura!
ANIMAIS COMUNS
Tijubina-da-caatinga
(Ameivula ocellifera)
Ararinha-azul
(Cyanopsitta spixxi)
IMPACTOS
Sofrendo
desmatamentos intensos desde o século XVI, a Caatinga mantém menos de 53% da sua cobertura original.
Semelhante aos demais Biomas, com exceção da Amazônia, as destruições são
distribuídas em todas as regiões, criando ilhas
de biodiversidade, isoladas entre si.
Em
decorrência da fragmentação da vegetação, reduzindo territórios, diversas
espécies não conseguem manter suas populações viáveis, levando a extinções
locais. Fora das ilhas, os solos se tornam mais instáveis sem a presença de
plantas, levando à desertificação local.
Todos
esses problemas são agravados pela realidade social da região. Além de extremamente
povoada, grande parte da sua população constitui as camadas mais pobres do
Brasil, gerando sérios problemas de desigualdade
social.
Com
isso, se mantém comum a extração de madeira e a caça para fins de subsistência.
Ao mesmo tempo, as queimadas ainda são uma prática muito comum, especialmente
para abertura de áreas agrícolas, sobretudo na plantação de monoculturas.
Entre
as consequências globais, o aumento da emissão de óxidos de carbono, somado à
diminuição da vegetação, contribuem com o aquecimento
global.
Sendo
amplamente aceitos dentro da comunidade científica, os efeitos nocivos das
mudanças climáticas, de modo geral, aumentarão as temperaturas no Nordeste,
diminuindo o período de chuvas.
Especificamente
sobre os impactos na Caatinga, o aumento dos dias secos, somados ao aumento de
temperatura média terão impacto direto na biodiversidade.
Sem
água suficiente, grande parte da biodiversidade acabará extinta da região,
gerando um clima árido, com a dominância quase absoluta de cactáceas.
Atualmente,
apenas 7,5% do território da Caatinga
está protegido na forma de Unidades de Conservação. Ela é uma das regiões menos
protegidas do Brasil. Um dos casos mais emblemáticos da ausência de proteção
nesse Bioma foi à extinção da
Ararinha-azul, no ano 2000.
Desde
então, tem existido um esforço internacional para reintrodução dessas aves, com
indivíduos de zoológico. Ações como essas, assim como o aumento progressivo das
áreas protegidas e dos investimentos em educação ambiental, vêm reduzindo a
destruição do Bioma e mudando lentamente a realidade local.
God bless you!
See you later. Take care!