Hoje
quero falar de um assunto muito importante: o transplante de medula óssea.
Aposto que você já ouviu falar sobre isso muitas vezes, seja em campanhas
chamando doadores, seja em alguma história de alguém doente que precisou deste
tipo de transplante. Mas se eu perguntar para você o que é isso, você saberia
responder? Se não, por gentileza, preste atenção a seguir, estas são
informações úteis e você poderá depois sair por aí explicando para todo mundo.
Antes,
de mais nada, quero esclarecer o que é a medula óssea. Talvez você já saiba,
mas não custa relembrar: os ossos são ocos e preenchidos por um tecido
líquido-gelatinoso (aquela parte que é chamada por muitos de tutano) onde são produzidos
os componentes do nosso sangue. Isso mesmo, é na medula que são produzidas as
hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas.
As hemácias transportam o oxigênio e o gás carbônico no nosso sangue, os
leucócitos fazem parte do nosso sistema de defesa e as plaquetas compõem o sistema
de coagulação sanguínea. Já deu para perceber o quão importante ela é, não?
Imagina, então, se temos problemas para produzir o que é tão essencial!
Algumas
pessoas são acometidas de doenças que afetam a medula ou a produção de algum destes
componentes e um tratamento indicado é o transplante de medula óssea, ou seja,
a substituição da medula doente ou deficitária por células normais de medula
óssea, com o objetivo de reconstituir a partir de uma medula saudável. O
transplante pode ser autogênico, quando a medula vem do próprio paciente, ou
alogênico, quando vem de um doador. O transplante também pode ser feito a
partir de células precursoras de medula óssea, obtidas do sangue de um doador ou
do sangue de cordão umbilical. Há ainda a doação silogênica, que é feita de um
irmão gêmeo gerado na mesma placenta.
Exemplos
de doenças que têm o transplante de medula óssea como indicação de tratamento: anemia
aplástica grave (deficiência na produção das células do sangue),
mielodisplasias e em alguns tipos de leucemias (tipo de câncer que compromete
os leucócitos), como a leucemia mieloide aguda, leucemia mieloide crônica, leucemia
linfoide aguda. No mieloma múltiplo e linfomas, o transplante também pode ser
indicado.
No
caso da doação autogênica (ou autóloga), as células progenitoras da medula do
paciente são coletadas antes do paciente passar por tratamentos de
quimioterapia. Essa coleta é criopreservada (preservada sob baixíssima temperatura
no momento oportuno do tratamento, ele recebe tais células. Trata-se de uma
técnica possível e de baixa mortalidade (comparada à doação alogênica), mas tem
alto índice de recidiva (a doença volta a se manifestar) nos casos de
neoplasias hematológicas e tumores sólidos.
No
caso da doação alogênica, precisando do transplante, o primeiro passo é
descobrir quem pode doar. De acordo com as leis genéticas, irmãos de mesmo pai
e da mesma mãe têm 25% de chances de ser um doador compatível. Quando não há
parente compatível, existe um Registro Nacional de Doadores Voluntários de
Medula Óssea, o REDOME, um banco de dados que pode indicar se há alguém
compatível com o paciente em alguma parte do Brasil. Além deste, existem bancos
do exterior também. E você deve estar se perguntando: o que seria uma pessoa
compatível? Antes de realizar qualquer transplante, testes de histocompatibilidade
precisam ser realizados e neles é determinado que um conjunto de genes que está
localizado no cromossomo 6 é igual comparando-se o paciente e o doador. Só
assim, é possível fazer o transplante.
Então,
fica a pergunta: o que esse cromossomo 6 tem de tão especial? Ele possui, em
seu braço curto, genes que determinam como é o sistema HLA (Human Leukocyte Antigen – Antígeno Leucocitário
Humano), nome dado ao complexo principal de histocompatibilidade dos humanos. Este
complexo (também encontrado na maioria dos vertebrados) tem um importante papel
no sistema imune, na autoimunidade (quando o sistema imune combate células e
tecidos do próprio organismo) e no sucesso reprodutivo. Mas especificamente
para o assunto que falamos aqui, são esses genes que produzem proteínas encontradas
nas membranas das células e que têm o papel de combater e apresentar corpos estranhos
(os antígenos) aos leucócitos (linfócitos T). Este complexo, resultante de
muitas pressões evolutivas, possui um nível de poligenia e polimorfia
surpreendente e, por isso, são muitas as variações. Sua expressão gênica é codominante
e, na maioria dos casos, vemos pessoas heterozigotas para a combinação de
genes. Por isso, até um irmão (exceto o irmão gêmeo univitelino) tem apenas 25%
de chances de ser compatível. Por conta dessa complexidade gênica, cada
conjunto de proteínas presente nas células de um indivíduo é único.
Se
um paciente receber a medula de um doador que possui genes incompatíveis que, consequentemente,
produzirão células com um conjunto de proteínas muito diferente, o corpo do
paciente seguramente terá rejeição a essa medula, entendendo-o como um corpo
estranho, e o transplante irá falhar, gerando problemas ao paciente. Por isso,
são tão importantes os testes de histocompatibilidade.
Através
de punções nos ossos da bacia do doador, até 15% da medula dele é aspirada. Em
dias, o corpo do doador recupera toda a medula doada. O paciente a recebe como
uma transfusão de sangue. A nova medula é rica em células progenitoras e chegam
até a medula através da corrente sanguínea e lá se alojam e se desenvolvem.
Logo após o transplante e enquanto as células novas ainda não foram produzidas
o paciente precisa ficar em ambiente hospitalar para evitar infecções e toda a
evolução é acompanhada mesmo depois de sair do hospital.
Segundo
o INCA (Instituto Nacional do Câncer), hoje já existem mais de 21 milhões de
doadores em todo mundo e, no Brasil, o REDOME tem mais de 3 milhões de
doadores. Você pode se voluntariar. Para isso, basta buscar o hemocentro mais
próximo de sua casa. Lá você dará suas informações para o cadastro, fará a
coleta de uma pequena amostra de sangue para que sejam feitos os testes que ficarão
no banco e pronto. Caso algum paciente precise da sua medula você será
consultado para decidir sobre a doação. O transplante é realizado num ambiente
cirúrgico, de maneira segura, com anestesia geral, e requer internação de 24h.
Bem,
agora você já sabe tudo: o que é um transplante de medula óssea, sua
importância e como é possível fazê-lo. Saia espalhando por aí! Além de conhecer
mais sobre a biologia humana você estará propagando informação útil e
necessária para tantas pessoas que necessitam de um transplante como este.
God bless you!
See you later. Take care!